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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Fundo do baú

Se descobrir bonita depois de anos se sentindo como o patinho feio, não tem preço. Redescobrir a autoestima no fundo de um baú, empoeirada, cheirando a mofo e alquebrada, é mesmo incrível. O mais doloroso de se sentir mal a respeito de si mesmo é que existirão maldosos, invejosos e mentirosos pelo caminho, dispostos a concordar com o pior de você mesmo.


Não falo só duma estética não, mas do conjunto. Porque descobrir beleza em si mesmo é enxergar um tipo de verdade. É ver o que há de mais bonito e apreciar. É como se acostumar a ver-se sempre num espelho arranhado, escuro e quebrado. Não é nítido, não é real. É estranhamente distorcido.


E quando você finalmente consegue se enxergar, tanta coisa muda. É mesmo um tipo especial de acontecimento, onde você descobre coisas incríveis sobre a pessoa que mais convive e que, por isso mesmo, mais deveria conhecer. Você pode enfim ver que seu nariz é meio torto sim, mas isso não tira a beleza dos seus olhos, nem do seu sorriso. A pele não é de seda, mas não é nada que um peeling não possa dar jeito.


Sentir-se feia traz um tipo de peso sobre os ombros, uma estranha sensação de dor e incapacidade. Vivemos numa sociedade que cultua beleza, então sentir-se fora disso tira, de certa forma, a habilidade de enxergar mais do aquilo.


Então você se descobre... Que momento feliz! E porque você descobre, se cuida com tanto carinho.


Porque a descoberta não é só de quão belo você pode ser... É de como você é uma pessoa incrível. Disposta, animada, corajosa, amada. A descoberta da beleza é um momento de autoapreciação e de autoaceitação. Sim, não sou alguém perfeito, mas gosto de mim desse jeito.


O patinho tornou-se um cisne lindo e corajoso – e ele sabe disso! Sabe quão feliz e quantas coisas boas merece. E se não ainda as obteve, tem garra para lutar por cada uma delas. Porque o cisne conhece sua força, sabe seus limites.


As distorções que tentaram fazê-lo acreditar não passam de mentiras, das mais deslavadas e incoerentes. Descabidas! O cisne é belo, é real e sabe disso. Nada mais escapa aos seus olhos, que há muito aprenderam a discernir a verdade da mentira, o afeto generoso da falsidade, a alegria da inveja, a beleza da feiúra.


Porque o belo não está na perfeição milimetricamente calculada, mas na singularidade de ser o que se é. Nas imperfeições, defeitos e medos. Nas dores e nas marcas. Nos dissabores. Nos enfrentamentos pela verdade, pela justiça. Na liberdade de ser o que se é, sem dever a ninguém àquele doce sabor, a não ser à própria fé.

2 comentários:

  1. Ameiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

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  2. seu blog não aparece no meu reader. achava que vc não postava mais. gente, que coisa mais linda do mundo é esse texto.

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