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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Delicadezas de viver

Tenho uma joaninha, dessas, de pelúcia, que ganhei há quase dez anos atrás. Ela me lembra tanta, tanta coisa boa. Da época em que me senti tão acolhida, por pessoas que realmente se importavam com dores que eu vivi, que passaram por dores parecidas... E ali, naquele grupo, pude me sentir menos estranha.

Hábitos que tinha, coisas que fazia, modos de pensar, meu Deus, elas também eram assim! Quando você tem dores que ninguém entende, você as tranca dentro de si, se sente um extraterrestre, que vive sem saber. Como assim você pensa de tal jeito? Como assim, reage dessa forma entranha? Mas tudo está tão bem guardado que você pensa, “bem, o problema está em mim”.
Coincidências da vida, ou não, você encontra pessoas. E estas pessoas, veja só, compreendem você! E aceitam suas expressões de dor, choram junto, se solidarizam. Solidarizar é uma coisa bonita demais! É de uma delicadeza sem fim você sair da sua dor pra compreender o outro. Guardar sua dor no bolso, como diz um poeta, e ir ajudar um amigo. Mesmo que você jamais tenha realmente “visto” esse amigo. Mas você foi capaz de ver sua alma, de entender seus conflitos e de ajudá-lo a carregar sua dor.
É bonito demais isso de expressar a sensibilidade que existe na sua alma... Porque as dores, as decepções, a avalanche de notícias trágicas tentam nos tirar essa mágica de simpatizar com  a dor do outro. Sentar junto e nada dizer, mas dizer tudo: eu estou aqui e não julgo você.

Esses encontros de alma não acontecem sempre. Mas quando acontecem dão todo sentido pra vida... Te ajudam a se reerguer, a reescrever o caminho. E isso não tem preço, mas se paga um preço para assim agir. Sair de si não é barato. Se abrir com o outro, custa confiança, custa compartilhar. Estender a mão custa uma força que você não sabe que tem. Apoiar o outro custa um tempo que você não terá de volta. E faz a vida tão, tão bonita. Daquelas delizadezas que só obras de arte conseguem expressar, que hábeis poetas custam em dizer. É bonito demais ter um amigo. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

"Tem a ver. Você disse que não quer responsabilidades. Senão você iniciaria simplesmente um caso comigo e seria o que tivesse de ser. É possível que tudo fosse bem e alguém decidisse constituir uma família, ter filhos." 
"Mas, Niki, não temos a certeza disso." 
Niki sorri e começa a brincar com as pontas dos cabelos. "Escute, Alex, você sempre me faz ouvir aqueles CDs do seu amigo Enrico." 
"E daí? Você não gosta?" 
"Está brincando? Gosto demais do Battisti. Aliás, tem uma canção que parece bem o nosso caso. É assim... sou um pouco desafinada, viu, não faça caso, tá?, mas preste atenção nas palavras." 
Niki começa a cantar e sorri ao mesmo tempo. Canta com extrema doçura. E não desafina. 
"Quem sabe, quem sabe quem é você? Quem sabe quem será? Quem sabe o que será de nós? Descobriremos só vivendo..." 
Niki interrompe e olha para ele.  
"O.k., entendi. Se fizer uma propaganda cantada certamente não vai me contratar, mas dei uma boa idéia?" 
"Sim, perfeitamente. Mas talvez você não lembre dela inteira, porque essa canção depois
diz..." 
Alessandro também se põe a cantar. "Estou percebendo que cheguei em casa, com a minha caixa ainda com a fita cor-de-rosa... Escute agora e... não gostaria de ter errado as minhas compras ou a minha esposa." "Ora, exagerado! Você já chegou lá no fim! Já está preocupado com aquele mo¬mento... É cedo para falar disso!" Alessandro pega um CD. Coloca no aparelho. Faixa seis. Tecla de adiantamento rápido. Encontra aquilo que ele quer fazê-la ouvir. "De qualquer forma agora tenho um pouco de medo, agora que essa aventura está se tornando uma história verdadeira, espero muito que você seja sincera!" 
Niki agarra mão dele e a beija na palma. 
"O que você quer me dizer, Alex, que tem medo? Não sabemos nunca nada sobre nós, do amor, do futuro, Lúcio tem razão, vamos descobrir vivendo. O que há de mais bonito?" 
Alessandro sacode a cabeça levemente. 
"Um dos dois vai se machucar. A diferença de idade é grande demais." 
"E tem medo que seja você a se machucar? Pensa que para mim não passa de uma aventura? É mais fácil que seja assim para você... Todas as minhas amigas dizem isso..." 
Alessandro abre os braços. "Ei! Eu não imaginei que elas gostavam tanto assim de mim!
Frederico Mocia – desculpa se te chamo de amor 
Comunidade Traduções e Digitalizações – http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=65618057  
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Se for por isso, os meus amigos também dizem o mesmo para mim." 
"O que dizem?" 
"Divirta-se enquanto der, enquanto ela não se cansar." 
"Sim, claro, são todos casados, têm esposa, alguns até filhos, e vivem mal esse seu momento porque gostariam eles também de fazer isso. Alex, aquele que deve decidir é você. Em minha opinião, é só uma questão de medo..." 
"Medo?" 

"Medo de amar. Repito, mas o que há de mais bonito? Que risco maior vale a pena correr? Como é lindo se dar completamente a uma outra pessoa, confiar nela e não ter outro desejo a não ser vê-la sorrir."


Frederico Moccia novamente. Esse livro é um encanto de ser ler. Já li e estou ainda sofrendo de ressaca literária.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

           'Niki fica séria.  
"É verdade. Você está certo, eu sou assim, não sei o que fazer. E acho que você não deve tentar me mudar." 
"E quem quer experimentar?! Eu odeio os fracassos..." 
"Cretino! Olha que, se eu quiser, posso mudar... É que se eu mudar por você seria errado. Quer dizer que não sou a pessoa que está procurando, que não sou certa pra você. Isto é, eu fingiria ser outra. Então, você tem em mente uma outra que em comum comigo talvez tivesse só o nome, você conhece outra Niki?..." Alessandro sorri.  
"Ouça, podemos deixar a filosofia? Eu era péssimo nessa matéria...'


Frederico Moccia, "Desculpa se te chamo de amor".

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Marcha das Vadias - eu fui!!


Descobri que há uma feminista que me habita e ela fala o que pensa. E se pensa que precisa protestar, ela vai lá... E protesta!
Em Goiânia esse ano teve Marcha das Vadias. Fomos, Lilian e eu. Tive uma ideia brilhante para um cartaz, pesquisei outras duas e nos preparamos.
Marchei porque sou favorável ao respeito pela mulher. Marchei porque não admito que uma mulher – como eu – seja chamada de vadia e desqualificada por isso. Marchei porque tenho consciência e sei que se não questionarmos o status quo as coisas jamais mudarão. Marchei porque sou feminista e desejo que outros também sejam. Marchei porque não sou a favor ao aborto, mas favorável à escolha de cada mulher. Marchei porque desejo andar na rua sem medo de ser estuprada. Marchei porque desejo que minha sobrinha cresça num mundo onde as mulheres sejam respeitadas e bem pagas. Marchei porque desejo que meus filhos não cresçam numa sociedade em que seis, de cada dez mulheres, sofre algum tipo de violência sexual. Mas sobretudo, marchei porque o que acredito não é da sua conta.
Então fomos na Marcha e isto gerou algumas polêmicas sérias, especialmente envolvendo o nome da marcha e o fato de sermos cristãs e termos ido.
Sou super fã de Jesus. Sim, aquele Jesus que aparece na Bíblia. Na minha (humilde) opinião ele foi um cara revolucionário: ele respeitou uma mulher quando ninguém mais fazia. Ela não passava de um objeto, podia ser devolvida a qualquer hora e ainda por cima foi pega em adultério. Joga pedra nela! – gritavam em coro os moralistas revoltados. E Jesus? Ele não tinha pecado, gente, e Ele a respeitou. Jogou na cara de todo mundo a sujeira que existe embaixo do tapete e a libertou.
Eu tenho tanto pecado quanto qualquer outra pessoa. Não me sinto no direito de me levantar e criticar qualquer pessoa que seja. Mas me sinto na obrigação de defender o direito de quem quer que seja.
Não sou uma pessoa super importante, daquelas super influenciadoras, mas quem convive comigo sabe como penso. E não tenho vergonha disso, ao contrário, tenho orgulho do fato de ter recebido uma educação que me ensinou a questionar, ao invés de simplesmente aceitar.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Saindo do armário

Sou uma pessoa muito pensativa... Tenho um mundo interior riquíssimo. E algumas coisas sempre me incomodaram, desde que era adolescente: o fato de não pode andar na rua sem ouvir gracinhas e ter medo de fazê-lo à noite são alguns exemplos. Talvez tenha surgido aí a feminista que mora em mim: por quê as coisas são assim?
O tempo passou e continuei questionando: por quê meninas que beijam muitos caras são galinhas e caras que beijam muitas meninas são pegadores? Por quê um cara pode sair com uma garota e sair falando do que fez dela?
Mais um pouco de tempo e eu, que sou apaixonada em blogs, conheci o blog da Lola. Tenho quase certeza que foi uma das indicações da Lóris. Comecei a ler e as provocações dela começaram a fazer todo sentido pra mim. Junto com isso, comecei a ler várias coisas e eu finalmente saí do armário: sim, sou feminista!
Na sociedade em que vivemos o feminismo faz todo sentido. Acontece que estamos acostumados a viver como se tudo fosse sempre assim, como se nossa sociedade não tivesse problemas.
Mas, infelizmente, os problemas existem e são vários: por quê mulheres ganham menos que homens? Por quê mulheres criam filhos sozinhas? Onde estão os pais dessas crianças? Por quê uma mulher não pode sair na rua à noite, sem medo? Por quê tantas mulheres são estupradas no nosso país? Por que?
Entende meu ponto? Nossa sociedade precisa do feminismo! Precisa porque as mulheres tem tanto direito de andar na rua quanto qualquer homem. Por quê eu ando na rua e um homem acredita que tem direito de falar em alta voz as diversas formas que quer me comer? E não, eu não estava de roupa curta, andando à noite sozinha, ou me exibindo. Estava indo ao médico, de jeans e camiseta soltinha.
A sociedade brasileira precisa trazer à pauta esses debates, porque ainda se pensa que o corpo da mulher é propriedade do homem. Eu sei que parece absurdo, parece fora de sintonia, mas é o que a atitude demonstra. A mulher não é digna de ter liberdade. Consigo ouvir “ohhhhs” e “ahhhs”, além de várias caras de desaprovação.

Sou feminista porque sou favorável ao respeito que toda mulher merece ao andar na rua. Sem nenhum ‘apesar de’ – infelizmente muito usado para inventar pseudojustificativas, culpando o tamanho/tipo/modelo/cor da roupa. Não é uma babaquice?