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terça-feira, 17 de maio de 2011

Como viver em um mundo de pessoas mais bonitas

Sites que reúnem apenas beautiful people (feiosos não são aceitos), rankings das cidades com mais gente supostamente quase perfeita, revistas com dicas para se adequar a incontáveis padrões estéticos que provavelmente não serão os da sua futura esposa... A beleza é mesmo alguma espécie de propriedade externa em vez de uma construção inseparável de nossos olhos?


Já falamos sobre as várias condições (internas e até impessoais) que definem nosso visual. Agora veremos se é possível mudar a aparência dos outros ao nosso redor. Claro, isso não significa tentar mudar o cabelo, a pele, as roupas, o comportamento das pessoas de acordo com algum critério estético.


Se as pessoas ficam naturalmente mais bonitas quando sorriem, relaxam, param, cultivam felicidade, brilho nos olhos, calor no peito, sentido na vida, como podemos criar espaços e nos posicionar para estimular esse processo? Pode parecer pura teoria, mas experimente colocar alguém em uma roda de percussão, levá-lo para uma trilha ou simplesmente perguntar sobre seu passado e seus sonhos. Sem falar em sexo... Observe como até mesmos os traços do rosto mudam de modo quase mágico. Não é preciso nem mesmo criar uma experiência, basta oferecer nossa presença espontânea para ativar essa vida nos outros.


Há algo em cada um de nós que está cansado, que não aguenta mais ser sempre igual, manter a coerência em relação às nossas identidades e ser tratado com o devido respeito. Podemos nos relacionar com isso. Podemos piscar ou sorrir para esse cansaço - em nós e nos outros. Boa parte de nossas faces mais feias são sustentadas por essa apatia, assim como nossa maior beleza vem da abertura, do mistério de não saber quem somos.
Além disso, podemos treinar nosso olhar. Uma coisa é ouvir uma música cubana descontextualizada e dizer que não gosta. Outra é passar duas horas dançando salsa na frente de congas e trompetes. Ao parar, ao dar crédito, ao brincar com aquele olhar de apaixonado, a beleza surge de qualquer lugar.


Curiosamente, nossa beleza é proporcional à nossa capacidade de reconhecer beleza no mundo. Peça para uma pessoa descrever seus amigos e você terá uma imagem bastante precisa de como os amigos a enxergam. Ou seja, o conteúdo estético de nossas experiências não vem exatamente de qualidades objetivas, externas, mas dos processos de relação pelos quais tocamos, cheiramos, ouvimos, vemos, degustamos, pensamos, imaginamos, recebemos os outros e o mundo. Ao mesmo tempo, somos tocados, cheirados, ouvidos, vistos, degustados, pensados, imaginados e recebidos pelos mesmíssimos processos de relação que criamos.

[by PdH ali, ó]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

CNH + eu = ?

Uma linda tarde de verão (adoro essa expressão!) resolvo: preciso tirar minha CNH! Ao lado do terminal de ônibus da cidade vizinha (cof! cof!) que eu trabalhava, havia uma auto-escola. Pois bem.

Paguei, matei trabalho pra fazer os exames, gastei dois fins-de-semana para fazer o curso e fui marcar as aulas de volante. Você acha que é agora que vem o final feliz??
 
Pois você está muitíssimo enganado! As pessoas comuns fazem 10, 20 aulas... Eu fiz dois meses e meio de aula! Foi difícil aprender a coordenar as marchas, trocando-as à medida que o carro pegava velocidade; difícil manter o carro alinhado, difícil fazer curvas, diminuir ou aumentar a velocidade em subidas, decidas e quebra-mola e por fim a baliza. Acho que foram umas 20 aulas SÓ pra isso! Na primeira prova fui vergonhosamente reprovada por ansiedade: meus joelhos tremiam tanto que o carro apagou! Como eu sabia que apagar o carro é reprovação automática, quem disse que eu queria terminar a prova?
 
Terminei, bombei e chorei. Nessa ordem. Reclamei pro meu instrutor, mandei torpedo pra minhas amigas, meu pai e minha mãe. Quis desistir, mas não o fiz! Decidi, depois de uns dias triste, que faria a bendita prova até passar. E passei, na segunda vez.
 
E o dias não passavam, até que ela chegouu! Mega ansiosa busquei minha CNH. Meu pai nunca queria me emprestar o carro, ficou super bravo quando bati seu carro na lixeira e riu quando o bati no muro. Em janeiro meu fofis carrinho, o Zeca, apareceu na minha vida e hoje dirigir é algo muito natural.
 
Recentemente ando pensando muito nisso. Estou passando por outras situações que exigem de mim persistência. MUITA! Tive momentos de querer jogar tudo pro alto e desistir. E eu, tal como fiz na prova, sentei, chorei e dei a volta por cima.

sábado, 7 de maio de 2011

Broken heart


Essa semana perdi minha sobrinha. Uma linda mocinha, que estava crescendo forte na barriga da mamãe dela, mas foi vítima de má formação.

Sim, eu sei que Deus sabe de todas as coisas. Sei que essas coisas acontecem; que foi melhor assim. Ouvi inclusive, de uma boca insensível que eu devia ser forte pra lidar com coisas assim.

Sabíamos que ela estava sofrendo. Era uma bebê agitada na barriga, devido aos problemas que teve ela não dormia, não descansava, já havia perdido massa encefálica. Muitos dias nós oramos por um milagre, outros tantos para que ela não mais sofresse, oramos para que o Senhor fizesse Sua vontade. E Ele fez.

Mas, ah, como doeu! Houveram dias que eu chorava e me perguntava como era possível amar tão profundamente um ser tão, tão pequenino. Porque eu a amo muito.

Eu dizia, muitas e muitas vezes: como é possível amar tanto um serzinho que ainda nem nasceu? Eu começava a pensar, enquanto trabalhava ou dirigia e só minhas lágrimas expressavam a dor que sentia.

Minha pequenina sobrinha faleceu essa semana, quarta-feira. Lembro da minha enorme alegria quando a Sophia nasceu. Aquele bebezinho, tão amado, tão especial. Conseguia ver as partes do seu corpinho na ultrassom como nunca antes. Queria comprar todos os brinquedos, macacões. Hoje quero comprar vestidinhos, livrinhos, batons, bonecas, bolsinhas e jogos.

E eu já pensava como seria feliz ter duas sobrinhas. Depois disseram que era menino. E eu pensava como seria o máximo ter um sobrinho. Então vieram as más notícias e todo nosso sofrimento. E o amor, esse sentimento incrível, foi tomando conta de cada parte do meu coração e da minha alma. Sinto como se eu não quisesse amá-la absurdamente, porque sabia do prognóstico.

Mas o amor é mais forte que a morte. Porque amo muito, muito, muito a Julia Amanda. Carrego no meu coração a dor de ter perdido alguém que eu amava, mesmo que esse alguém ainda nem pesasse um quilo. Mesmo que eu não tenha coragem de perguntar à minha irmã, que foi a única que a viu, como era o rostinho dela. Mesmo que ela medisse a palma de uma mão aberta.

O amor, esse sentimento incrível! Invade, delicadamente, cada célula, cada vaso. Contagia, inunda, traz esperança, traz novos sonhos. Sonhava com seu nascimento, imaginava sua personalidade...

Acredito que no céu não haverá dor, nem lágrimas. Sei que, de alguma forma, a Julia Amanda lá estará feliz e saudável. Porque o amor, ah, ele permanece. E não deixa de esperar, confiar, crer no melhor. Julinha, você foi muito amada. Das poucas certezas, sei que não lhe faltou amor.