Cheguei na escola no primeiro dia de aula e uma das mais queridas alunas me diz que havia perdido a mãe nas férias. Vontade de colocar no colo, trazer a mãe de volta, sei lá.
Dias depois ela desabafa, em forma de revolta, sua dor, me dizendo que era um absuuurdo eu ainda morar com minha mãe. Eu senti o tom de revolta na voz, no olhar e a na postura. Ela me perguntava, muda, se era justo eu ser uma adulta e ter meus pais juntos e ela, uma criança, não. Eu não soube o que dizer, apenas sorri e a deixei falar.
Ninguém me disse que eu teria que lidar com o luto assim tão de perto, nem que doeria tanto. Não há, confesso, profissionalismo que resista.
Ela é uma criança, uma menina e se esforça pra fazer tudo como sempre, pra ser a estudante brilhante, a menina alegre, mas alguma coisa se perdeu no caminho...
Não há quem possa recuperar, não há o que se possa fazer. A menina de tiradas irônicas não é mais engraçada. Sua ingenuidade de criança se perdeu.. E eu assisto àquilo tudo. E dói demais. Especialmente porque não consigo saber o que fazer. Contemplo, apenas, uma das minhas alunas favoritas (confesso, tá? Ela é especial, sempre foi) sofrendo insuportavelmente. E a vida continua, ela tem que continuar. Ela não terá mais sua mãe para lhe disciplinar. Seus olhos não brilham mais do mesmo jeito.
Sexta ela me disse que foi tirar o RG e eu digo que tirei o meus aos 16 anos, ela olha pra mim e diz "foi quando você perdeu sua mãe, professora?", como alguém que pede uma esperança, uma corda de salvação, como dizendo, "por favor me diga que há uma luz no fim do túnel, que há uma esperança".
Ela sempre me chamou muita atenção, parece que sempre compreendi como ela se sente, me vejo nela, em tantos aspectos. Ela já passara por muitas coisas na vida, se tornara forte ao sabor das circunstâncias. Já havia saído de sala para conversar com ela sobre assuntos que nada tinham a ver com a sala de aula. Na reunião que tive com sua mãe lhe disse isso, inclusive e ela me deu todo apoio para fazê-lo.
Nas últimas semanas de junho eu soube que sua mãe estava investigando um câncer e eu nós oramos. E eu me lembro da sensação que eu quis ter que ficaria tudo bem, que nada seria confirmado...
Minha aluninha que me disse um dia que quando crescesse teria um namorado "lindo, loiro, alto, crente, rico, inteligente e que toque bateria" não tem mais a mãe pra estar ao seu lado. Ver isso dói. É quase insuportável.
Own... Tadinha :'-(
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