Páginas

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A gente somos inúteis

Até quando?

Em recentes declarações, um vereador de São Paulo diz que professores são inúteis, não gostam de dar aula, são preguiçosos e por isso, conclui ele, a Educação no Brasil não evolui. Interessante é que por aí existem muitas soluções mágicas para o problema da deseducação brasileira e, na maioria deles os professores são arlequins de cartola que resolverão todos os problemas. Não basta apenas fazer estripulias ou fazer surgir um pombo!
É preciso que o aluno aprenda, tire nota máxima na Prova Brasil, seja alfabetizado, tire notas excelentes, seja lindo, educado, limpo, esperto, espontâneo, escreva excelentes textos e tenha um raciocínio lógico-matemático de dar inveja a Malba Tahan! E tudo isso será alcançado na magica sala de aula, onde o menino entra e sai sabendo tudo.
Não é preciso que o professor seja bem pago, pois isso não influencia de maneira alguma a aprendizagem. Não é preciso que as salas de aulas tenham menos alunos, porque lá nos Estados Unidos esse não é um número relevante. Não é preciso que todos os alunos tenham livro didático, pois o professor dará um jeito. Não é preciso novas tecnologias, porque isso também não trabalha a motivação do aluno.
Nada. Tudo que você precisa é de um arlequim, um quadro e giz branco.
Não lhe parece contraditório? A mim sim. Vejo todas as contradições possíveis em discursos vazios de profundidade. Se o educador é quem fará a diferença, porque não lhe pagar mais do que R$ 1.087,00?
Acontece que os problemas da Educação brasileira não tem soluções simplistas, e não há quem queira pegar o arado e reformar com zelo. Aumentar a carga horária não resolve o problema! Somar um dia na semana apenas desgastará já quase destruído: o mestre.
Pessoas, como você, seu vizinho ou seu chefe, que tem problemas a resolver, marido, esposa, filhos, médico, contas e responsabilidades. Sim, porque você sai e deixa seu trabalho na empresa, mas o educador não. O educador planeja, pesquisa, corrige 200, 300 provas, testes e avaliações em casa. O educador planeja formas de que seu filho/sobrinho/afilhado aprenda melhor. Pesquisa profundamente temáticas contemporâneas para conectar o conteúdo à realidade. Procura desafios, textos, poesias. Faz listas de exercícios, elabora avaliações diagnósticas e jogos lúdicos.
Não sou uma professora preguiçosa e acredito, honestamente, que poucos colegas meus o sejam. Vejo colegas preocupados com os rumos do Brasil, das políticas públicas, dos alunos. Vejo colegas fazendo malabarismos para equilibrar tantas responsabilidades.
E vejo, infelizmente, teóricos, mestres e doutores que jamais pisaram seus pés Jimmy Choo em uma sala de aula de periferia dando receitas para a melhoria da Educação. Não os escuto mais. Isso destruiria todo meu esforço em ser uma educadora.
Educadora de verdade, do tipo que está aprendendo a alfabetizar, do tipo que se preocupa, que discute, que tira o sapato para brincar com os alunos, que lê livros para melhorar sua prática, que reflete sobre o que faz.
E, para finalizar, se estamos falando de receitas, eu também tenho algumas. Ofereça ao professor um aumento real, que ao menos quadruplique seu salário e dê a ele a oportunidade de estar apenas em uma escola. Ofereça a esse profissional uma escola em que ele não precise usar mimeógrafo, ou giz branco que lhe dá alergia, onde tenha tempo para pesquisar e um laboratório de informática e ciências que funcione, com espaço para bibliotecas, livros didáticos para todos os alunos, junto com verbas para passeios, assim como salas que tenha uma quantidade moderada de alunos. Obrigue os pais a matricular e acompanhar os filhos na escola. Puna alunos que ameaçam, arranham carro ou batem em professores.
Não é simples?

Um comentário:

  1. Super simples! Mais simples ainda é conseguir a verba pra fazer tudo isso que você sugeriu. Que tal se os políticos ganhassem um pouco menos?

    ResponderExcluir

Escreva aqui que ouço dali ;)
Seja bem-vindo!