Tenho uma joaninha, dessas, de pelúcia, que
ganhei há quase dez anos atrás. Ela me lembra tanta, tanta coisa boa. Da época
em que me senti tão acolhida, por pessoas que realmente se importavam com dores
que eu vivi, que passaram por dores parecidas... E ali, naquele grupo, pude me
sentir menos estranha.
Hábitos que tinha, coisas que fazia, modos
de pensar, meu Deus, elas também eram assim! Quando você tem dores que ninguém
entende, você as tranca dentro de si, se sente um extraterrestre, que vive sem
saber. Como assim você pensa de tal jeito? Como assim, reage dessa forma
entranha? Mas tudo está tão bem guardado que você pensa, “bem, o problema está
em mim”.
Coincidências da vida, ou não, você encontra
pessoas. E estas pessoas, veja só, compreendem você! E aceitam suas expressões
de dor, choram junto, se solidarizam. Solidarizar é uma coisa bonita demais! É de
uma delicadeza sem fim você sair da sua dor pra compreender o outro. Guardar sua
dor no bolso, como diz um poeta, e ir ajudar um amigo. Mesmo que você jamais
tenha realmente “visto” esse amigo. Mas você foi capaz de ver sua alma, de
entender seus conflitos e de ajudá-lo a carregar sua dor.
É bonito demais isso de expressar a
sensibilidade que existe na sua alma... Porque as dores, as decepções, a
avalanche de notícias trágicas tentam nos tirar essa mágica de simpatizar
com a dor do outro. Sentar junto e nada
dizer, mas dizer tudo: eu estou aqui e não julgo você.
Esses encontros de alma não acontecem
sempre. Mas quando acontecem dão todo sentido pra vida... Te ajudam a se
reerguer, a reescrever o caminho. E isso não tem preço, mas se paga um preço
para assim agir. Sair de si não é barato. Se abrir com o outro, custa
confiança, custa compartilhar. Estender a mão custa uma força que você não sabe
que tem. Apoiar o outro custa um tempo que você não terá de volta. E faz a vida
tão, tão bonita. Daquelas delicadezas que só obras de arte conseguem expressar,
que hábeis poetas custam em dizer. É bonito demais ter um amigo.
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